domingo, 30 de outubro de 2011

Opinião: A maior banda dos últimos tempos da última semana

As bandas de rock brasileiro que nasceram nos últimos 10 anos receberam de herança um novo país. Diferenças profundas marcam a geração musical anterior daquela que seria massacrada pela mídia musical, sob nomes pejorativos; a música passou a ser um pretexto para a crítica especializada cair de pau em bandas como Nxzero, Fresno, Cine, Restart, Gloria, CW7 e tantas outras, que embaladas pelo movimento emocore, colocaram a cara na estrada (virtual) e aproveitaram as facilidades destes novos tempos e mostraram sua música. O público infanto-juvenil, talvez o nicho mais bem integrado às novas tecnologias, se identificou, abraçou a proposta e hoje temos novos astros.
Vamos dar um pulo para 1982. O cenário do país era sombrio, desesperançoso e muito em função disso, criativo. A palavra “roque” dava calafrios nos nossos pais, nos nossos professores, nos nossos governantes, nas autoridades religiosas. O tropicalismo deixou como legado bandas (ou famílias) como Os Novos Baianos e Os Mutantes, não necessariamente bandas que poderíamos assinar, com letras garrafais, como defensoras do bom e velho rock and roll.
Assim como tudo que é brasileiro, sempre vem misturado, com os sotaques regionais, com as influências europeias e com a boa música americana. Essas duas bandas, em específico, tinham como deboche e a ironia, ingredientes primordiais de seus trabalhos. Era a auto-defesa contra períodos de chumbo de um presidencialismo febril e autoritário, que promoveu Chico e Caetano como porta-vozes subliminares de uma sociedade até então, politizada e amplamente antenada com o status do país.
E foram estes artistas, incluindo tantos outros de igual calibre ou de menor escala, e também sob este contexto, que serviram de exemplo para Paralamas, Legião, Engenheiros, Titãs (para citar os grandes) “desembarcarem” no porto brasileiro. Cada um com suas características, com suas influências, textos interessantes, muita personalidade e com um som ‘nacional’ sem ser panfletário.
Estas bandas, frutos de uma geração (e vamos repetir essa palavra durante muitos textos) que adequou-se ao “cale-se” do período da ditadura, que tinha como hábito a leitura de grandes clássicos literários, que aprendeu a sofisticar versos através de compositores brazucas, mostrou para o público ouvinte dos anos oitenta – especialmente anos oitenta – que era possível fazer uma música divertida, crítica, dançante e até com muita inspiração lírica, sem demover da produção, a vontade de se fazer entender sem que fosse necessário rastejar aos clichês do óbvio.
Se Herbert, Humberto, Renato, Cazuza, Arnaldo conseguiram fazer um liquidificador cultural em suas composições e deixaram uma marca entusiástica de qualidade e pluralidade musical, a atual geração flerta com o fugaz, longe de se tornar histórica (ao menos por motivos artísticos) sem que isso se torne de fato, um motivo de saudade, uma vez, que “esquecida” outra banda vem e a substitui.
As bandas novas completam de maneira quase uniforme, o novo vocabulário da sociedade Google, sociedade esta que se satisfaz com os mecanismos de busca como os mais eficazes para sua lida e rotina.
Se a questão que envolve o legado de bandas como Barão Vermelho, por exemplo, vai além do campo da cultura nacional e se mistura com o novo jeito do brasileiro ver, sentir e entender música, dificulta-se a passagem do bastão quando estas bandas paleozóicas abdicam de suas carreiras para transformarem-se em parte do todo, quase renegando um passado de sacrifícios biográficos, tão responsáveis pelo local alcançado, quanto os bons discos produzidos. Dos grandes citados, apenas Paralamas do Sucesso mantem um carreira conduzida cuidadosamente, sem o mesmo impacto causado há 20 anos. Titãs mudou radicalmente sua forma de expor música e Legião (por motivos óbvios) e Engenheiros do Hawaii (na prática) não existem mais.
O grande paradoxo desta história toda é que, se as próprias bandas não se fazem memoráveis, os ‘moleques’ acham no passado parte do seu rastro e mantem algum culto, por menor que seja, para Renato Russo e Cazuza, talvez os maiores nomes de uma geração, sendo chamados até hoje de poetas, título ainda não banalizado na cultura nacional.
E como em tudo há exceção, o que dizer do Capital Inicial? Nunca foi ‘a bola da vez’ e nem ‘a melhor’ quando colocada uma lista de maiores bandas do rock nacional, perdendo até para Ultraje à Rigor e Kid Abelha, para entre tantos problemas e substituições, ainda figurar nos elencos dos festiviais, colocar música no rádio e arrebatar multidões para seus espetáculos.
Adaptou-se (e tal molde pode ser questionado) ao ouvinte secular, se congratula com a juventude, com letras simples e narrativas, e talvez seja a banda número 1 do rock brasileiro há algum tempo. Esse reinado fora deixado por outra banda, desta vez de São Paulo, chamada Charlie Brown Jr, que viu seu mundo desabar após uma série de erros, principalmente de estratégia comercial.
Em suma: não há homogeneidade em 30, 40, 50 anos de rock nacional. Vemos os artistas surgindo a partir de uma iniciativa pública (por assim dizer, o ouvinte agora produz sua própria música e se conquista e se revela sensação, através do Myspace, do Youtube, do Twitter…) aplaudindo, condenando, endeusando e tornando-se a melhor banda dos últimos tempos da última semana.
Infelizmente a pergunta que fica é: saberemos quem é Pé Lanza em 2016?

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