quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Crítica: O Preço do Amanhã

Ação e ficção científica com lição de moral
No futuro, a humanidade conseguiu domar o envelhecimento. Todos nascem e crescem normalmente até seus 25 anos de idade, quando param de envelhecer. O problema, porém, é que nesse ponto um marcador luminoso no braço de cada um passa a marcar o tempo de vida restante – um ano. Esse tempo de vida torna-se a nova moeda mundial: trabalha-se para ganhar tempo de vida, que ao mesmo tempo é o modo como tudo é pago. Forma-se uma sociedade separatista, em que os ricos conseguem viver centenas de anos e os miseráveis se esforçam para ter tempo o suficiente para durar de um dia para o outro. Até mesmo o crime é outro – agora, ser roubado quase sempre significa a morte, já que leva-se o tempo da vítima. Will Salas (Justin Timberlake) é um jovem do gueto que, ao receber todo o Tempo de um centenário e ser acusado de assassinato, sequestra a bela milionária Sylvia Weis (Amanda Seyfried) e se torna um fugitivo tentando derrubar o sistema. No caminho, a dupla passa a ajudar os miseráveis e descobrir toda a verdade sobre o controle de tempo de vida, ao mesmo tempo que fogem do implacável agente “guardião do tempo” Raymond Leon (Cillian Murphy).

Tradicionalmente, diz-se que as boas histórias de ficção científica devem trazer uma lição. Que, seja literalmente ou metaforicamente, haja uma crítica, ou algo que possa ser transportado para a nossa realidade para que possamos pensar e aplicar para nossas existências. Felizmente, este é o caso de “O Preço do Amanhã” (“In Time”): partindo de uma premissa consideravelmente absurda, não é difícil nos identificarmos ou traçarmos paralelos. Afinal, quem não gostaria de ser jovem, nos mantendo para sempre no nosso pico de saúde, beleza e vitalidade? Como o filme demonstra, isso não funcionaria por si só – se todos pudessem ter a vida eterna, não haveria local ou recursos para todos, o que leva a um controle cruel.
Não só isso, o filme trabalha outros conceitos e ideias que já conhecemos muito bem de outras obras, mas que não deixam de brilhar com seus detalhes próprios. A diferença entre os ricos e pobres em Tempo, por exemplo, mais do que volume de trabalho ou luxo, é demonstrada de maneiras interessantes: os pobres tem o costume de andarem rapidamente ou correrem, para economizarem seu Tempo. Já os ricos andam e fazem tudo com calma e, já que só podem morrer por causas externas, são extremamente cuidadosos em tudo que fazem, especialmente evitando acidentes.
Mas se você quer assistir sem pensar em todos os “poréns” da história, o filme esbanja ótima ação e suspense, sendo repleto de perseguições (tanto a pé quanto de carro), cenas de luta e tiroteios, além de excelentes momentos de tensão. O “relógio” do braço dos personagens é um dos principais causadores de suspense, já que muitas vezes o enredo gira em torno da sobrevivência ou não. O elemento de contagem regressiva não é novo e já apareceu em diversos tipos de filmes e seriados, mas quando ele está tão intimamente ligado à vida dos personagens, de maneira diferente de bombas ou armadilhas, o efeito é muito maior. As cenas em que Will coloca seu tempo de vida em jogo deixam a plateia prendendo a respiração e de olhos arregalados até o final. Se quer outros motivos para ver o longa, não podemos deixar de destacar a beleza do casal principal, que agrada todos os gostos.
O longa lucra fortemente com personagens interessantes, que evoluem bem, acompanhados de um elenco igualmente rico. Timberlake e Seyfried fazem um casal interessante, de modo que é na interação dos dois que surgem várias das grandes cenas. Timberlake, em especial, mostra boa força de atuação, além de um ótimo talento para cenas de ação. Tropeços existem aqui e ali, mas no geral não existem problemas. Alguns dos secundários passam de maneiras completamente esquecíveis, porém, não chegam a prejudicar.






Um ponto estranho, porém, é que num enredo em que teoricamente todos teriam aparência de 25 anos eternamente, isso nem sempre acontece. De um lado, temos uma série de personagens que esbanjam juventude na aparência, transmitindo sua maturidade da idade real nos diálogos, como Olivia Wilde como Rachel, mãe de Will. De outro, alguns personagens parecem claramente ter mais de 25 anos, de modo que parece forçado atribuir a eles a idade biológica, como no caso de Vincent Kartheiser (como Philippe Weis) e Cillian Murphy, que claramente já passaram dos portões dos 30 anos.
                                 
Como um todo, o filme merece pontos pela caracterização. Apesar de passar-se no futuro e usar elementos high-tech, como o “relógio” de números verdes ou aparelhos “transmissores” de tempo de vida, a estética geral mistura elementos de várias épocas. As construções, por exemplo, parecem claramente de nossa época ou nada anteriores. Os carros, com alta tecnologia e portas pneumáticas, são claramente inspirados em modelos dos anos 70. A quebra de expectativas de misturar o retrô com o futurista aqui é positiva, gerando mais personalidade à experiência.
Ótima opção para todos. Se você não gosta de ficção científica, ainda assim dê uma chance à ação e suspense praticamente ininterruptos. A propósito, se você é fã da série de TV “Big Bang: A Teoria” (“The Big Bang Theory”), vale conferir Johnny Galecki (o Leonard) como Borel (amigo de Will), num papel pequeno, porém bem executado.

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